Concebendo os adultos pouco escolarizados como indivíduos ativos e cognoscentes, em interação com o mundo letrado ao seu redor, criando recursos diversos de interpretação, para lidar com as representações da língua, torna-se realmente impossível considerá-los analfabetos. De formas variadas, todos possuem conhecimentos sobre a escrita como representação da língua.
As investigações sobre o processo de desenvolvimento e aprendizagem monstram que adultos não alfabetizados possuem em conhecimentos sobre a escrita e sua função, mesmo sem passarem por um processo de escolarização, apresentando, às vezes, na linguagem oral características da linguagem escrita (discurso letrado).
É através do processo de interação com a sociedade letrada que adultos poucos escolarizados podem produzir e reconhecer o sistema de escrita e os diferentes tipos de textos.
Saber escrever não se limita à aquisição do sistema notacional, inclui uma gama de representações, relacionadas a diferentes conteúdos. A escrita é entendida como sistema de notação e meio de comunicação, com dupla propriedade: formal e instrumental.
A propriedade formal está relacionada à escrita como sistema notacional (características, sintaxe, semãntica, etc.). A propriedade instrumental refere-se ao uso da escrita em situações e com objetivos específicos.
Nessa perspectiva, a leitura não pode ser reduzida a um processo de decodificação. No processo de leitura, pensamento e linguagem atuam em transações em que o leitor busca significado no texto.
Por isso os textos a serem trabalhados na EJA, precisam ter significado em sua vida diária. Não se permite utilizar textos infantis com turmas de jovens e adultos que trabalham, tem família etc..
A capacidade de interpretar e aprender com os textos está diretamente ligada àquilo que o indivíduo conhece antes da leitura. As características do leitor são tão importantes como as do texto. Através de seus conhecimentos, pode utilizar estratégias de inferência, complementando as informações do texto que não estão explícitas e antecipando outras que se farão explícitas.
O Ensino da Língua Portuguesa deve ter como finalidade o desenvolvimento da capacidade de representação e comunicação, ou seja, da competência textual (capacidade de interpretar e produzir textos orais e escritos de uso social) para satisfazer necessidades pessoais do indivíduo e para acesso e participação no mundo letrado.
Marta Durante